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27/07/09

O REGRESSO

A alegria de voltar a casa

É uma grande alegria para nós e para os familiares e amigos, quando voltamos a casa, depois de seis anos de trabalho em terras distantes. Muitas coisas se passaram durante a nossa ausência. As crianças que deixamos cresceram e hoje já são jovens e adolescentes. Os jovens terminaram os seus cursos, engajaram-se nas tarefas de reconstrução nacional, muitos casaram e formaram lares. A família cresceu com o nascimento de novos membros, quais botões de flores para alegrar o jardim da família. Houve também algumas perdas irreparáveis. A irmã Morte Corporal, passou implacável e levou consigo pessoas amadas: pais, irmãos e irmãs, parentes e amigos para junto do Pai Criador. É como se levassem parte de nós mesmos.
Viver é apoiar-se no passado, nas experiências vividas para trabalhar com segurança no presente e projectar-se com esperança para o futuro. Viver é avaliar, discernir e definir novas metas e novos projectos. Olhando para os seis anos de serviço de animação e governo da Ordem, directamente responsável pela África e Médio Oriente, dou graças a Deus pela vasta experiência da Ordem como Fraternidade universal que se exprime localmente nas diferentes culturas e tradições humanas onde está presente. Sinto que posso dizer como São Paulo que combati um bom combate, tentei dar o melhor de mim e recebi imensamente mais de cada irmão e de cada Fraternidade que visitei. Mas sobretudo saí enriquecido pela amizade profunda e partilha de experiências com os meus Irmãos do Definitório Geral. Ao Irmão Ministro Geral, Frei José, e a cada um dos Irmãos do Definitório, vai o meu muito sincero agradecimento por tudo o que foram para mim durante esse tempo que vivemos juntos.
A Custódia de Santa Clara de Moçambique, em estreita colaboração com a Família Franciscana em Moçambique, está empenhada na celebração da «Graça das Origens» para assinalar o Jubileu dos 800 Anos da aprovação do Projecto evangélico de vida apresentado por Francisco de Assis e seus companheiros ao Papa Inocêncio III em 1209. Este Projecto de vida original, foi base de uma fecunda espiritualidade que, ao longo destes séculos, serviu de fonte de inspiração para a fundação de numerosas congregações de vida consagrada e movimentos evangélicos laicais que hoje compõem a Família Franciscana.
A presença dos Filhos de São Francisco em Moçambique vem desde o começo da presença cristã em terras moçambicanas, embora com muitas interrupções. No início das navegações marítimas dos Portugueses, os capelães que acompanhavam as Caravelas para as Índias, eram geralmente os Frades Franciscanos. Por isso, admite-se a hipótese que o mesmo sacerdote franciscano celebrou a primeira Missa em Moçambique a 11 de Abril de 1498 e, de regresso da Índia, celebrou a primeira Missa no Brasil em 1500. Sabemos que 1634 os Franciscanos Capuchos da «Província da Madre de Deus da Índia fundaram o Convento de Nossa Senhora da Saúde na Ilha de Moçambique e proveu-o de pessoal até 1646».
Em 1898 os Frades Menores da Província Portuguesa dos Santos Mártires de Marrocos fundaram a Missão de Moçambique. Hoje temos uma florescente Custódia Autónoma com 55 Irmãos dos quais 40 professos solenes. Os Frades Menores Capuchinhos de Bari e de Trento fundaram Missões na Zambézia, que hoje formam uma Província. As Franciscanas Missionárias de Maria formam uma grande Província que cobre praticamente todas as Dioceses do País, da mesma maneira as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e as Irmãs Franciscanas Vitorianas, As Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora, as Irmãs Franciscanas do Divino Pastor, as Irmãs Franciscanas Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, as Irmãs Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, As Irmãs franciscanas de Nossa Senhora Mãe da África e outras; numerosas Fraternidades da Ordem Franciscana Secular presentes em todo o País e, ultimamente, três Mosteiros de Santa Clara em Namahacha (Maputo), em Lichinga (Niassa) e Milange (Zambézia). Os Filhos e Filhas de São Francisco são hoje a Família Religiosa mais numerosa na Igreja Local. Têm uma missão irrenunciável de anunciar a mensagem de “Paz e Bem” e de cantar com a vida o Cântico da Fraternidade Universal.
Estão programadas várias iniciativas para relançar a presença e o testemunho da vida, vocação e missão franciscanas na sociedade e na Igreja em Moçambique. Em Setembro haverá um retiro que terminará com as solenes celebrações do encerramento do Jubileu e os jubileus dos irmãos.
Que o Pai São Francisco e a Irmã Clara de Assis nos abençoem e nos obtenham da parte de Deus a graça da fidelidade à nossa vocação e missão franciscana na Igreja e na sociedade moçambicanas.

13/07/09

Escuta e Cultura

Escuta segundo
a Cultura Tradicional Africana
A sociedade tradicional africana e a sua cultura são estruturadas em função da oralidade. O pensamento, a acção e a relação são organizados de acordo com os princípios ditados pela tradição herdada dos antepassados e oralmente transmitida de geração em geração. Nela a palavra falada, proclamada, cantada ou, simplesmente gesticulada, desempenha um papel de extrema importância. É a palavra que articula, explica e esclarece os mecanismos que regem os vários aspectos da vida da comunidade: o religioso-sagrado, o poder-político, e o direito legislativo. É ainda a palavra primordial pronunciada pelo patriarca fundador do clã que indica a direcção certa, em caso de dúvida; que estabelece a comunhão e restaura a harmonia em caso de conflitos e contrastes.

Na Cultura Tradicional Africana (CTA) a palavra é a ponte de unidade e continuidade entre o passado, o presente e o futuro. A palavra ritual recria o cosmos e garante a continuidade da unidade vital universal.

Sendo a oralidade um traço estruturante importante da CTA, essencialmente fundada sobre a palavra, a capacidade de escuta é a virtude mais apreciada na sociedade tradicional africana. Uma característica fundamental desta cultura é a exigência de fidelidade ao conteúdo da mensagem (tradição) herdada dos antepassados e que deve passar de geração em geração, através de séculos, sem perder a sua força unificadora e iluminadora do clã.

Para mostrar o quanto é importante a escuta para os africanos, bastaria ver o espaço e o tempo que se lhe dedica na vida, na linguagem e no relacionamento entre as pessoas, bem como as cerimonias e ritos que a rodeiam.

Em muitos povos africanos, como por exemplo entre os Vatonga, os Vatshwa, os Vatxopi, os Varonga, o termo usado para dizer “ouvir” tem uma significação que vai para além da simples actividade sensorial do ouvido. Ouvir (gupwa) é usado para exprimir todas as impressões e vivências interiores. Diz-se: “ouvir fome”, “ouvir sofrimento”, “ouvir amor”, “ouvir alegria”, “ouvir paz”, etc.
[1] Portanto, “gupwa” é fazer uma experiência global da realidade.

Da mesma maneira o verbo “escutar” (gu yingisa), tem uma significação muito ampla. Em Gitonga “gu yingisa” não significa apenas ouvir, significa sobretudo obedecer, conformar-se com os princípios estabelecidos, acatar as instruções e normas recebidas. Escutar (gu yingisa) significa também viver e comportar-se de acordo com os ensinamentos recebidos dos mais velhos, os detentores da experiência de vida e da sabedoria. Isto mesmo vale para a forma negativa do verbo. Quando se diz que uma pessoa não escuta “kha yingisi” pode significar que não ouve, como também e sobretudo, significa que tal pessoa não tem capacidade de escuta; não vive conforme as normas vigentes; não aceita (ou resiste) o processo de conversão; não cresce, não revela crescimento nas suas atitudes.

Os jovens devem desenvolver a capacidade de escutar atenta e silenciosamente, de modo a não perder os mínimos pormenores do quanto lhes é oralmente transmitido pelos anciãos. O escutar africano envolve toda a pessoa. Não se trata de escutar só com os ouvidos, mas com o coração (rula monyo u yingisa); com o entendimento (rula wongo u yingisa) e com todo o próprio ser (rula u yingisa). Desta maneira escutar adquire um significado muito profundo. Escutar é interiorizar, assimilar e guardar as experiências da memória colectiva do clã, para poder transmiti-las como se delas tivesse participado directamente. Escutar é mergulhar na experiência fundante daqueles que estiveram na origem da tradição. Assim, quando um africano narra os acontecimentos da história dos seus antepassados, diz: “nós”, como se ele tivesse estado presente e fosse protagonista e testemunha directa do que está a contar.

Outra característica importante da CTA é a escuta atenta, afectiva, paciente e respeitosa. O africano tem todo o tempo para escutar o seu interlocutor. Não cortará nunca a palavra que ainda está a ser pronunciada, porque esta palavra traz a força, a vida e a personalidade daquele que fala.

A escuta-presença solidária, muitas vezes silenciosa mas intensa, é outra característica muito comum nos africanos. Junto ao doente, à pessoa angustiada, sobretudo em caso de morte de alguém, os amigos permanecem horas e horas e até dias, não para dizer palavras, mas simplesmente para estar presentes. Esta presença acompanhada de gestos simples, de atenção, de um sorriso, de um olhar de amizade produz efeitos muito benéficos no coração e na alma do outro.

Para terminar esta reflexão sobre a escuta, penso ser importante referir que em muitas culturas africanas a pessoa sábia há-de ter orelhas grandes para escutar tudo e olhos grandes para ver tudo, mas boca pequena para falar pouco. Aos emissários e portadores de mensagens que cruzam os caminhos africanos recomenda-se que tenham 4 olhos, 4 orelhas e uma só boca, para significar que devem dedicar toda a sua atenção e todo o tempo possível a escutar e a observar a realidade, mas falar o mínimo e só quando for necessário. O tagarela não é admitido no conselho
dos anciãos[2] , onde são tomadas as decisões mais importantes da vida do clã.


[1] “Gupwa ndzala”, “gupwa wuvi”, gupwa lihaladzo” “gupwa gunengela”, “gupwa gurula”
[2] o adágio tonga diz: Khokho nya maguru kha yi beli namboni :muthu nya mambwaga kha beli huwo, que quer dizer: “o fala-barato (boateiro) não entra no conselho (palabre)”.

10/07/09

Encontro e cultura

Encontro segundo a Cultura Tradicional Africana

A sociedade tradicional Africana é fortemente marcada pelo sentido de encontro. A vida é um encontro. Viver é encontrar continuamente novas terras, novas realidades, novas pessoas e novas experiências. Isto pode explicar essa forte tendência natural do africano para inventar ocasiões de encontro, de celebração e de festa. Também nisto se há-de encontrar a raiz da irresistível atracção dos africanos pelo mercado, não tanto como lugar de compra e venda de artigos, mas sobretudo como lugar de encontro, de rever amigos, de renovar laços e de obter novas experiências.

Desde o seu nascimento a criança africana é iniciada, através de cerimónias e rituais de apresentação, num processo gradual de encontros com os diferentes níveis da existência até se harmonizar completamente com todas as forças que constituem a unidade e participação vital de todo o cosmos.

Depois do parto, a mãe e a criança não podem sair do lugar abrigado, antes de pelo menos sete dias, até que se realizem todas as cerimónias e rituais de apresentação do novo ser aos elementos essenciais da Natureza: a terra, água, o ar (nos seus quatros ventos ou pontos cardeais) e o fogo.

Com estas cerimónias a criança é integrada e harmonizada com as principais forças cósmicas para que não seja por estas fulminada como elemento estranho ao sistema. Depois, seguem os ritos de apresentação e harmonização com as pessoas, com o clã, e com a sociedade. Com estes ritos, dá-se o nascimento social, étnico e cultural da criança. Nestes dias o recém-nascido como que é ritual e simbolicamente iniciado nas tradições e nas actividades que caracterizam o clã: caça, pesca, agricultura, pastorícia, guerra, etc. Nos clãs dedicados à caça, colocam na mãozinha da criança de sexo masculino um pequeno arco simbólico, enquanto se pronunciam votos de que ela cresça e se torne homem robusto capaz de alimentar a sua família com o fruto da sua caça. às menininhas fazem-nas pegar num cestinho de palha, símbolo dos cuidados domésticos.

No dia da saída da criança com a sua mãe, faz-se um grande encontro de festa com a presença de toda a gente: os membros da família ampla, os parentes, os amigos, os vizinhos, etc. Dá-se o primeiro encontro do recém-nascido com a sociedade ampla para além das fronteiras do seu próprio clã. Nesse dia, atribui-se oficialmente à criança um nome de família previamente designado pelo oráculo dos antepassados ou inspirado por estes em sonhos ao ancião do clã.

Na árvore dos antepassados dá-se o nascimento religioso, a apresentação ritual do recém-nascido aos seus antepassados protectores. Seu nome é pronunciado pela primeira vez publicamente e aclamado por toda a assembleia reunida. Este rito aplica-se para crianças de ambos os sexos, com as respectivas adaptações. Tratando-se de uma menina, diz-se: “Tu te chamarás (fulana) … sê boa dona de casa e saibas compreender o teu marido; sê fecunda e boa educadora da tua família, como o foi a aquela de quem recebes o nome. Agora, o recém-nascido já é uma pessoa com um nome próprio dentro do clã, deve ser enculturado através de uma educação que lhe permita assumir, identificar-se e harmonizar-se completamente com o seu clã, assumindo as normas e os valores culturais dos seus antepassados. Usará este nome até ao fim dos ritos de iniciação que têm lugar na juventude, quando o iniciado poderá escolher para si mesmo o seu nome de adulto.

O encontro com o “outro”, expande-se e amadurece ao longo da vida, através de uma densa rede de relacionamentos de amizade e de alianças, dentro e fora do clã, para atingir a sua expressão máxima no casamento e na transmissão da vida pela geração de filhos. Estes encontros continuam com os pactos e alianças que permitem ao indivíduo estender ao máximo a rede de seus encontros, isto é, da sua influência nos outros clãs. Por isso o ancião africano procura ter muitos filhos e filhas para poder casá-los em vários clãs e ampliar assim o seu prestígio e influência social.

O encontro com a morte é outro momento solene na vida do Africano. Este encontro é preparado com tempo, ainda em vida da pessoa e é prolongado por longo tempo depois da sua morte física. O encontro com a morte é na África um encontro que, por sua vez, ocasiona e motiva encontros entre si dos membros vivos da família, destes com os antepassados, e com o cosmos, através de cerimónias e rituais finalizados a restaurar a harmonia e participação vital universal lacerada pela morte. O encontro com a morte abre a porta para o encontro definitivo com os espíritos dos antepassados. Esta é a aspiração máxima do africano: atingir a plena maturidade de pessoa humana, tornar-se um espírito protector e entrar na comunidade daqueles que já ultrapassaram a barreira da morte e se dedicam agora a garantir a vida, a felicidade e a harmonia dos seus descendentes.

A celebração das parentais (culto aos antepassados) é uma ocasião privilegiada do reencontro da grande família clânica: os vivos e os mortos, para celebrarem a sua unidade como família; para comemorarem a sua origem e o seu passado comum; para renovarem as suas esperanças no futuro.

07/07/09

ENCONTRO

Pax et Bonum!

Hoje damos início a mais um espaço cibernautico.
Aqui queremos encontrar os amigos de todo o mundo, unidos nos valores humanos, evangélicos e franciscanos.
Este blog, que tem pot tema "ENCONTRO" é de Frei Amaral Bernardo Amaral, frade Franciscano da Custódia de Santa Clara de Assis, em MOçambique.
Tal como esta "velhinha", ao me ver chegar junto da sua palhota exclamou: "hoje Deus chegou a minha casa", também este espaço pretende ser uma presença de Deus em casa casa onde entrardes.
Desde já a todos desejo os votos de paz e bem.
Fr. Amaral OFM

 
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